sábado, 4 de dezembro de 2010

Transbordo

Transbordo emoções sufocadas por dias sem ilusões ou sonhos de uma mente tranquila
Transbordei lágrimas retidas na esponja do meu espírito, carregada por grande volume de água
Transbordava quando pensava em quanto ainda tinha pra transbordar
Transbordarei toda a tristeza do mundo através dos meus olhos pesados
Transbordaria cada vício sujo que me entope o corpo
Transbordando até o limite onde tudo fica:
Transbordado...

Transformado.

sábado, 6 de novembro de 2010

Limpeza

O que te inspira?
Os cheiros. Sentido cravado na minha essência pois dele eu materializo todos os outros. O cheiro tem cor, eu fecho os olhos, sinto o cheiro doce da sua pele e vejo cores que iluminam o espaço. Construo seres e personalidades incríveis simplesmente com ponta do meu nariz. viajo no tempo como uma caixinha de memórias, e a cada cheiro que me recordo, vejo as cenas que se passaram por toda a minha vida. Não, sinto o cheiro dos momentos vividos! O cheiro arrepia. Transformo aquele fedor de cigarro misturado ao perfume em um veneno sedutor.
O que te expira?
As faltas. Todo mundo as tem mas existem algumas inadmissíveis. Falta da cor. A vida é cor e arte, ai outra falta importante! No ar que respiramos a arte não pode faltar, é oxigênio. Movimento, porque obviamente a falta dele me traz o tédio da vida.
Entre uma inspiração e outra há sempre o descarrego da poeira que consome esse ar puro. Ai eu expiro, elimino a cada ciclo renovado de ar as partículas mais nocivas pra minha alma. Num círculo vicioso, brigamos por saber dosar a inspiração e a expiração, porque obviamente sempre buscamos por mais inspiração. Queremos sempre encher o peito com a novidade do mundo, se entorpecer até ficar zonza com tanto volume dentro da gente. Mas o grande segredo está na expiração.
Ontem comecei a expirar mais forte, comecei a eliminar seres indesejados que paralisavam meu corpo, que contribuíam para a auto-destruição interna. Hoje expirei mais forte, e doeu com profunda tristeza.
O corpo vem se preparando para expirações mais fortes, mas essa massa densa saiu junto com as lágrimas, dor no corpo e na alma e se vai com toda a poeira do ar.
Apesar de tudo, minhas inspirações continuam superando as expiração, contradição! Porém, o ciclo continua, porque nesse meio do caminho nada pode parar:
inspiro...
expiro...
respiro.

domingo, 17 de outubro de 2010

Livre Arbítrio

A roda chega.
E eu me chegando la de canto, e canto a andorinha, peneirando no terreiro, ai ai!
Corpos marrons. Não é só a roupa, é a terra, Mãe Terra dentro de cada Angoleiro do Sertão!E dança minha terra. Joga com a terra e luta pela terra! não só eles lutam, nós também lutamos. Mas tudo vira um jogo de movimentos livres! A luta é livre, o jogo é livre e nós somos livres para entrar na roda ou simplesmente olhá-la de canto. Seja canto, seja meio ou seja fim, a energia envolve tudo o que é canto.
A roda samba. É samba quente, é samba frio, é samba feio, é samba leve, é samba mole, é samba duro, é samba quieto, é samba vivo, é samba samba! nenhum samba é igual, essa é a graça da roda. Tem samba que nem é samba!
A roda sua. Bem la no meio o calor! Corpos quentes de samba, terra, amor e tesão! Eu nasci pra capoeira?Num sei não!!Mas eu nasci pra esse calor. Talvez com meu não-sei-samba no pé eu faça isso com todo o meu amor.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Jacaré

Comecei pensando nas regras. São elas que me carecem?

Dias e vidas pensando no sonho da alma selvagem, na intuição artista, no espírito de liberdade, seria essa minha liberdade? Almejar a vida só em tons coloridos, podem ser pastéis, mas sempre cores! Ou acordes bem tocados, sem pausas ou grandes silêncios constrangedores. Talvez a dança transpirando emoção por cada centímetro do palco.

Será que são esses os objetos a serem dedicados nos meus altares? Cada oração ou pensamento deva fluir para esse objetivo na minha vida?

Acho que isto vem feito parte da minha vida há anos! Mas não por completo. É preciso aprender com o preto e o branco, suas infinitas variações cromáticas que te levam desde o preto do papel até a maior saturação e acúmulo de luz possível, o branco. Preciso cultuar o silêncio, abstrair palavras e seus sons quando desnecessários. Aprender que o silêncio é fruto de sabedoria e necessita ser ouvido de alguma maneira, aguçando sentidos distintos e desenvolvendo a capacidade de harmonização do corpo e da alma.

Não, acho que também não é isso!

É preciso abrir mão desse passado que te consome, dos hábitos repetidos ridicularmente da mesma maneira a anos.

Sim, são suas regras, rituais que esperam ser praticados, dia a dia, sem quebra, sem deslizes, com amor. Você os guarda na sua caixa lacrada de medos e vontades borbulhando energia para explodirem e voarem por aí. Mas não sem rumo. É preciso o rumo, as regras e os rituais. Quero a dureza. Mas eu tenho a dureza. O coração banhado pela falsa insensibilidade, ríspida pulsação de ritmos constantes.

São eles, vocês. Meus rituais, regras e altares.

Com Ardor

O toque invisível desde o fim, o laço eterno de um amor sem fim.

Lágrimas correm em sua presença, transbordam direto do peito, do centro do coração.

Puro assim como seu amor.

Doi na alma minha sua dor! Minha dor, sua alma, nosso amor. Nossa dor ligada pela vida.

Você me deu a vida, e eu te dei amor?

Te dou sal e muita água. Nuvens prateadas brilhando no céu, espelhos que refletem o longo caminho a seguir.

Sem olhar pra trás, o trem já passou. Mas você não passou. Há muita vida pra passar!

Suas pernas aguentam mais uma longa caminhada.

Sua vida espera na dor, mas é no amor que brindamos o seu sorriso. Sim, o seu sorriso!

Com o meu amor. O único amor sem fim. O seu amor.

Mãe.

domingo, 3 de outubro de 2010


Sangue vinho quente de tão frio escorre na boca minha, ou tua, ou de quem bebeu ou bateu ou morreu.

Sangue prata frio vai esquentar o corpo vil de quem as mãos sujou com teu vinho tinto

Vidro vinho reflete seu brilho no meu sangue, reflete seu sangue por todo e só sangue

Vinho tinto deixa na minha boca teu gosto de ferro, mas não do martelo

Sangue gelado, de gotas molhadas que escorrem pela taça suada, de quem é teu vinho?

No fim ninguém bateu ou morreu... Só bebeu.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sinclair


O cheiro da infância. Tudo que remete a esse tempo é doce! Lembramos das balas, cheiro de bolacha amanteigada, pasta de dente de tutti-frutti. Nascemos com um dom, apreciar cada aroma que o mundo carrega no ventre, perceber como carregamos mais memórias desse sentido do que podemos expressar.
Desde o início associamos os cheiros aos signos das nossas vidas. Sua mãe jamais exalará tamanho perfume que penetra nos meus poros como o de minha mãe. Se fecho meus olhos, consigo senti-lo, como se banhassem cada fração do espaço ao meu redor da mais concentrada fragrância materna, o cheiro do amor materno. Eis aqui o primeiro cheiro da vida!
Devemos a esse aroma primordial, a base do nosso perfume da existência, a primeira gota do frasco. Grande frasco que aguarda gotas vivas e coloridas. Às vezes nem tão coloridas assim. Outras vezes elas fedem, a podridão ou mofo, ou exalam angústias e devaneios de uma mente perturbada e sem anseios ou desejos em contribuir com menos de um respingo. Às vezes são lágrimas que transbordam pelo vidro, lavando e levando partículas de odores passados, que se perdem pelo ar rarefeito, de etérea fixação.
Mas ele fica. Acordo e sinto impregnado no meu corpo todo o frasco, jogado desde minha nuca até meus dedos, ou como se bebesse todo ele de gota em gota, e dessa maneira não somente o cheiro, mas, o sabor esquecido voltasse a pertencer-me. Recordo as balas, os amores, os desejos, as tristezas e fraquezas. Esse é meu cheiro! Do passado entregue e resignado só me resta a primeira gota. De amor, ódio, dor e prazer criei meu eu mais interior do que minha carne e meus ossos e marquei na alma aquilo de mais singular, preciso e pessoal que se deseja perpetuar.
Meu próprio cheiro!

sábado, 31 de julho de 2010

"Quando o Amor Vacila"

Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila.


Poeta baiana do amor e da vida! Suas palavras, Maria Bethânia, tocam no fundo da alma.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Menina das cores

Difícil definir o que brilha mais, a menina ou as cores.
Em cima do palco a o movimento se define pela leveza e suavidade de suas asas rosa-esverdeadas que voam devagar. Um sopro azul celeste movimenta as flores laranjadas, mas o brilho do sol esquenta suas novas pétalas vermelhas.
A harmonia da natureza se desfaz em gotas de suor, chuva, lágrimas douradas que se espalharam por todo o palco. Aos que vêem, nada mais é preciso. Saltos, giros e piruetas, mergulhos...cores.
A explosão da emoção misturou todos os sentimentos.
Realidade? Mentira. Tudo é fantasia; a liberdade não existe para a menina além das luzes do palco.
O brilho se desfaz em suor, chuva e lágrimas, agora sim prata, mas dessa cor só resta o cinza, pois o brilho ficou para trás. A vida separa as cores e impede que elas dancem no rítmo da natureza, balencem as asas com o sopro do vento ou o brilho do sol.
A menina daça a vida em passos rígidos, secos... sempre a espera do próximo palco que liberte suas cores mais vivas. Pulse seu brilho real.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Dentro do mar tem um rio"

Irmã Lua.
Filha do mar que se completa de milhões de gotas doces, água doce dos rios.
Mas já nasceu inteira, cada partícula inteira se une para formar o grande inteiro da natureza.
A única coisa que se divide é sua alma. Metade dela é maresia, brisa do mar.
A outra metade quem sabe? Você sabe?
Eu sei que é doce, pura.
Brilha com o sol, mas é na lua que é intensa.
Talvez seja essa a resposta:
Metade mar metade lua. Os dois grandes azuis da vida e da morte
Eis o ciclo perfeito da vida!
Você nasceu água corrente de divina majestade.
Aspirou seu Eu mais singular, e de tanto desejo de participar da vida, respirou!
Deixou o ar tocar no seu peito, secar a boca molhada e cantar versos sem palavras.
Você não conhecia palavras nem versos, nem sabia amar.
Mas é filha do mar! De Iemanjá brilha seus olhos.
Nasceu para o amor do mundo, fertilizar o homem com suas águas de sal doce.

Começo vazio

Confusão dos sentimentos, idéias, conflitos e angústias dentro de uma mente vazia...cheia de mundos e mudas de roupas amassadas. Mistura de barulho e silêncio. Mas o silêncio absoluto se aproxima do mundo.
Na verdade Hoje o mundo está vazio, como se um grande manto negro vestisse as calçadas e calçados dos que passam.
O dia de festa se foi, junto com a beca, e as lágrimas vêm salgar a boca, penetrar na saliva.
Quanta coisa numa coisa só! Tudo isso na luz da lua mais cheia da vida, cheia de vida, chega de vida!